domingo, 14 de outubro de 2012

METADES

Por Silvia Mendonça

Metade em mim é curva
A outra metade é reta
Não o que se mede
Nem o que escapa ou perde
É a metade correta
Do ponto que se reflete.

Metade em mim é fogo
a outra metade é água.
Não por onde se navega
Ou se colhe desventura
O caminho de minha escolha
É o destino que se aventura.

Metade de mim é paz
A outra metade vulcão
Minha alma é grande
E busca a comunhão
Mas quando dela se desfaz
Fica em ponto de combustão.

Metade em mim é labirinto
A outra metade é encontro.
Não o que se nega no espelho
Nem na face se escreve
A linha que se desfia
No no momento em que tece.

Metade em mim é palavra
Que se completa com o silêncio.
A pedra é o que se define
O verbo só se revela
Não por acaso ou sorte
De quem persegue ou apela.

Metade de mim é razão
A outra metade emoção
Não a que se nega à entrega
Nem que vive só de momento
É a forma de conhecer
Que se tece sem lamento.

Metade de mim se perdeu
A outra metade não conta.
Não por desejo ou claridade
O fogo da noite é tormenta
toda alma tem a idade
Do corpo que se inventa.

Metade em mim se comove
A outra metade é atenta.
Não que a mão traga pronta
a sina de cada verso
Embora a rima esconda
A métrica do universo.

[Do livro "A Mulher Por Trás do Espelho"]
[Inédito]

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